quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

um universo paralelo chamado ginásio

Os ginásios são um fenómeno deveras complexo. Correr ao ar livre, jogar uma boa partida de ténis ou até nadar no mar parecem ser actividades menos prestigiadas, hoje que toda a gente já é sócia de um health-club. Chega-se a Fevereiro/Março e, de um momento para o outro, todos querem ser saudáveis. À força. É a altura da migração aos ginásios, abre a época da caça à gordura.

 A primeira vez que passei as portas electrónicas de um famoso ginásio da capital achei aquilo óptimo. Era só gente saudável, com corpos impossivelmente esculpidos e uma força de vontade sobrenatural. Senti isto até que olhei mais de perto, com uma atenção redobrada. Na verdade, estava diante um conjunto de macacos que corria em passadeiras que não levam a lado nenhum e que pedalam bicicletas que não saem do lugar. Para além disso ainda sobem escadas sem degraus e levantam pesos, enquanto olham, ao espelho, os seus corpos oleosos.  Apresento-vos o submundo dos health-clubs.

Primeiro dia de ginásio: Filipa veste todo o seu equipamento, meticulosamente condizido. Calça uns ténis aerodinâmicos e ata o cabelo, sentindo-se agora preparada para enfrentar o monstro. Sim, a aula de RPM. Chegou o professor, um homem de 1,90, todo ele depilado e envergando um fato de lycra. Foi duro, suei, gritei mas sobrevivi para contar.

Hulk,o magnífico, era o rei do ginásio. Entrava majestoso no seu cubículo pejado de bicicletas que não andam, confiante, qual Deus na Terra. Os seus discípulos sentam-se nos aparelhos e pedalam entusiasticamente e gritam quando lhes dizem e aumentam o peso dos pedais, para aquela subida na montanha.

Hulk, para além de soberano do RPM e do health-club era, igualmente, um poderoso manipulador das massas, um ídolo que o povo segue cegamente. Tinha todo um discurso de persuasão ideológica planeado “ Nós somos uma equipa, pessoal! E as equipas trabalham juntas para alcançar o objectivo. Ponham a mão na consciência e pensem: dei o meu melhor? Se sentem que não conseguem respirar atingiram o topo. Se não puxem por vocês, JÁ! Agora gritem comigo…”wooooooow”. E toda a gente gritava. Eu olhei assustada, pensando estar a sofrer de alucinações graves. Mas não estava, aquela “equipa” toda estava hipnotizada pelo seu líder. O chão tornara-se um ringue de patinagem artística, coberto por um manto grosso de suor, o ar era pesado e as respirações pareciam provir de um asmático crónico. Decidi que aquilo não era vida para mim. Parece que não sou lá grande coisa a subir montanhas fictícias e a gritar irada contra uma parede.

            Mudei para o body balance, uma inteligente mistura de yoga, taichi e pilates.

Logo na primeira aula percebi que ali a imaginação também era fundamental. Ele era bolas de energia que não se viam e agradecimentos ao Deus do Sol numa cave, de noite. No final da aula, até há meditação. Ou seja, um conjunto de gente que pensa que é da paz e do amor, deita-se num colchão, a ouvir passarinhos a cantar nos Himalaias e a instrutora a falar serenamente sobre coisas que não fazem sentido algum.

Enfim, uma pessoa sujeita-se a estas irracionalidades para ficar em forma...





p.s - e sim, eu frequento um ginásio.

6 comentários:

  1. lisbon new-yorker, muito bom este teu post. Realmente, visto de fora é tal e qual tu descreves ;)
    Beijinhos
    Ps. Não frequento um ginásio.

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  2. A minha prima mudou de cidade e passou-me a assinatura do Holmes de modo que ainda andei lá cinco meses. E tal como tu, fui ao RPM até que me fartei dos homens crescidos a dar gritinhos nas subidas da serra imaginadas. E depois fui ao Body Balance e percebi que não tinha paciência para estados de meditação. E depois acabaram os cinco meses e eu como no último nem lá pus os pés, percebi que aquilo não era a minha onda e não renovei.

    Olha, tenho é saudades da aula de dança do ventre que fiz durante dois anos no super-remediado ginásio "de gajas" em frente ao escritório. Mas como aquilo "era difícil" às tantas só eu é que ia às aulas e acabaram no ano passado :-(

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  3. O problema dos ginásios da moda é fazerem do exercício uma MODA, cheia de tendências, teorias e lavagens cerebrais que, no fundo, não passam de meras técnicas de marketing para comer o dinheiro ao pessoal.
    O exercício nunca deveria ser uma moda, mas sim uma forma de estar na vida, um hábito adquirido. Quem corre para um ginásio 2 ou 3 meses antes de ir para a praia, não pode ficar à espera de conseguir grandes resultados. Depois acabam por desistir, porque ao fim desses 2 ou 3 meses não ficaram com o corpo que desejavam e acham que o esforço não vale a pena.
    Para se estar em forma não é preciso gastar balúrdios num health club. Um ginásiozinho pequeno, discreto, com um bom monitor, sempre disponível, é bem mais eficaz que esses mega ginásios onde anda tudo em bando e onde, muitas vezes, se tem de estar à espera que as máquinas fiquem vagas.
    Mas isto só resulta com muito esforço, muita força de vontade, disciplina e durante o ano inteiro, durante anos... e não apenas a 2 ou 3 meses de se enfiarem em biquinis.


    :-)

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  4. Olá! Eu sou o AF e não frequento um ginásio!

    (nota: eu até gostava de frequentar um, mas não tenho muito tempo livre... é que a maior parte do tempo estou a fazer coisas inúteis que ocupam o horário do ginásio. Talvez para 2011...) :P

    Excelente post! :)

    *

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  5. O Hulk tanto serve para aquele como para a IURD. Está ali a sacar dinheiro aos fieis que acreditam no milagre que ele lhes vende em vez de irem correr para o paredão.

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  6. Que post excelente!!
    É mesmo isto, neste (quase) 3 anos de ginásio e aulas de rpm (que faço todos os dias, religioamente) algumas vezes questionei-me sobre as montanhas ficticias, sobre os papeis ridiculos etc... mas chego sempre á conclusão que já não sei viver sem aquilo e sem os Hulks do meu ginásio.

    Só ainda não consegui render-me às aulas de body balance.

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