quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

o médico da barriga

É a nossa sina. Temos de visitar o ginecologista uma vez por ano, pelo menos. Arranjamos nomes para tentar esquecer o que aquele médico examina. Ele deve ser o mais injustiçado de todos os especialistas porque ninguém o chama pela designação certa da sua profissão. Ele é o “médico da barriga” ou pior, “aquele médico” que dá “aquela consulta”.

Não acredito que haja alguma mulher que se sinta minimamente confortável numa consulta desta especialidade. Despem-nos, apalpam-nos, basicamente ficamos totalmente expostas e indefesas. Não é que o médico nos vá atacar mas incorre, sem dúvida, num quase crime de violação de privacidade, a diferença é que a vítima é quase voluntária. Sim, porque se não fosse uma obrigação ninguém ia.

Todo o consultório me parece completamente assustador. Para além da típica cadeira que se assemelha a um objecto de tortura do tempo da Inquisição, as prateleiras costumam estar recheadas de livros sobre pipis e sobre maternidade. “Os segredos da Vagina”, “O ABC da Vagina”, “Útero e Ovários revealed”. Olhando para todo aquele espectáculo a reacção normal de um ser humano seria fugir a sete pés. Nós, mulheres, temos de canalizar as nossas forças interiores e ficar ali, à mercê de um médico que examina a nossa intimidade.

Fiz uma espécie de inquérito e perguntei às minhas amigas e conhecidas no que pensam quando estão a ser examinadas por “aquele médico”. As respostas foram variadas. Umas pensam no que irão fazer para o jantar, outras recordam-se da sua agenda para o dia seguinte, algumas cantam para dentro. Tudo está perfeito, se conseguirmos distrair-nos do que estamos ali a fazer porém, médicos há que destroem todo o nosso esforço de abstracção. Quem é que já não ouviu expressões como “tem uma mama jovem” ou até, “ tem um útero muito bonito”? E pronto, vem tudo por água abaixo. Parece que começa a tocar uma sirene nas nossas cabeças que nos avisa que temos de fugir rapidamente dali, de preferência pela saída de emergência. E o que fazemos nós? Ficamos quietinhas e rezamos para que tudo acabe rápido.

Depois, se temos algum problema, ainda que pequeno, há mais uma prova a ultrapassar. Ir à farmácia sem apanhar uma vergonha. Sabemos que os farmacêuticos são seres praticamente insensíveis a doenças, visto que já lhes passaram pelas mãos todo o género de receitas para os vários males. Porém, custa sempre pedir um creme ou umas saquetas solúveis para a dita cuja. Das duas uma, ou olham para nós com uma expressão de nojo absoluto ou nos fitam com aquele ar de “hum, tens uma vagina!”.

Os homens costumam queixar-se dos exames à próstata, como se fossem uma grande coisa. Eles só têm de passar por essas desconfortáveis análises aos 50 anos de idade. Já nós, temos de nos sujeitar ao ginecologista desde tenra idade.

Já agora, gostava de saber o que é um útero bonito.


3 comentários:

  1. Ahahah o meu médico não tem desses livros.. tens a certeza que se trata de um "médico da barriga"?..

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  2. O meu tambem me disse que tenho 1 utero bonito. Lol! martinha perereca

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