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quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

a queda do mito mecânico-sexual

Era uma noite fria de Inverno. Estava um breu assustador lá fora, ouvia-se o vento a uivar e a chuva a bater violentamente contra os vidros. Estava bastante feliz por estar dentro do meu popó, aquecido pelo ar-condicionado ligado no máximo e poder cantar aos berros, sozinha, sem que ninguém me pudesse gozar. Tudo parecia perfeito até que, de repente, o carro se desliga no meio da auto-estrada. Sinceramente, pensei que tivesse feito algum disparate para que aquilo acontecesse contudo, brevemente perceberia que não. O carro desliga-se outra vez, sem aviso prévio.

Ok, o meu Honda estava a sofrer a sua primeira avaria. Após anos de companheirismo, de pequenos segredos trocados em andamento, o meu carro sucumbia à velhice. Era agora, tinha de ir, pela primeira vez na minha vida, a um mecânico.

Não sei se já vos disse mas eu tinha uma tara por mecânicos, facilmente explicada pela imagem hollywoodesca desta profissão. Sempre me imaginei a chegar a uma garagem e a ver um carro parado ao centro de onde, lentamente, saía um homem musculado, ligeiramente manchado de óleo e suor e com um macacão azul aberto até onde Deus quisesse.

Produzi-me e preparei-me para esse momento pelo qual ansiava fazia anos. Chego à oficina, com o meu melhor gloss cuidadosamente aplicado e os meus saltos altos, confiante de que iria assistir a um agradável espectáculo, naquele antro de masculinidade. Qual não é o meu espanto quando vejo um verdadeiro mecânico aproximar-se. Era apenas um homem de meia - idade, com uma barriga proeminente e um macacão imaculadamente limpo. Pensei, Ok, vou dar-lhe mais uma oportunidade, de certeza que o seu discurso é sexy. 

Então menina, o que é que aconteceu aqui ao seu rapaz? -  Não, não era isto que esperava, aceitei as evidências, as minhas fantasias com mecânicos tinham acabado naquele preciso instante.

 O carro desligou-se em andamento, no meio da auto-estrada. Liguei-o novamente e desde esse dia que, de vez em quando, me acontece isso. -  respondi eu, desolada.

Tem a certeza de que não o deixou ir abaixo? - perguntou o homem sorrindo ironicamente e piscando o olho aos colegas. Não estou a dizer isto por ser mulher, é claro, isso acontece até mesmo aos homens!

Tive de colar a minha perna ao chão para não lhe dar um pontapé onde vocês sabem.
Eu apenas sei distinguir os carros pela cor, somente identifico umas seis ou sete marcas de automóveis mas posso gabar-me de ser uma boa condutora.
Admitamos, o mundo dos automóveis ainda pertence aos homens. Não sei já foram a uma exposição dessas máquinas mas parece que estão cheias de mulheres nuas a roçarem-se sensualmente nos carros. Já alguma vez viram um homem de calções a acariciar um automóvel? Se viram avisem-me!

Parece-me que estas exposições são pensadas para o sexo masculino e os automóveis também. Será assim tão ridículo pedir que arranjem uns pneus  que possam ser levantados por uma mulher que não pratique culturismo?
Apenas vos digo mais umas palavras para vos incentivar nesta nossa luta feminina e com elas legitimo o nosso poder e a nossa sabedoria no que diz respeito à condução: eu sabia - o meu carro tinha mesmo uma grande avaria!




Imagem claramente ficcional

quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

os homens e o complexo de Benjamin Button

Os homens são um animal difícil. Por vezes, é complicado conquistá-lo mas toda a ciência está em mantê-lo. Como todas vocês sabem os homens, ao contrário das mulheres, não conseguem pensar em várias coisas ao mesmo tempo. É o jogo de futebol ou as mamas da Pamela Anderson ou a imperial. Nada em simultâneo, uma coisa de cada vez. É aí que nós entramos, nessa luta inglória para conseguir uns minutos de atenção, sem fugas mentais para pensamentos menos próprios. Já não nos bastava ter de lidar com esta grande limitação, ainda temos de dividir a (pouca) concentração deles com os seus carros.

Sim, porque o automóvel é um agente fulcral na vida do macho. É através deste objecto que o indivíduo se afirma na sua comunidade, que constrói a sua personalidade e identidade. É o carro que diferencia o João e o Manel, nem que seja pela cor dos estofos.

O velocímetro é, muitas vezes, visto como um medidor de masculinidade. Isso é que é vê-los a picarem-se nos semáforos, a acelerarem com o veículo completamente imóvel ou, a travarem bruscamente quase em cima do carro do adversário. Nunca percebi estes joguinhos mas é através deles que se comprova aquela teoria centenária de que os homens nunca crescem. Ou se crescem, dentro do automóvel recuam misteriosamente no tempo, feitos Benjamin Button. Falam sozinhos ou com o seu veículo e mexem em todos os botões, qual criança extasiada com o seu brinquedo preferido. Tirar o carro a um homem é roubar-lhe a alma.

Desprestigiar o automóvel de um indivíduo é praticamente a mesma coisa que insultar a sua mãe, talvez pior. Mesmo que esteja velho e desgastado o carro é um santuário, que se deve respeitar e honrar, até que a morte os separe. Entre marido e mulher não se mete a colher e acreditem, caras companheiras, não se metam entre o vosso homem e o respectivo carro.

E pronto, temos de aceitar. Eles parecem adultos cá fora mas mal entram no carro viajam no tempo até à infância. Há dias perguntei a um homem porque se picava com o carro do lado. A resposta foi esclarecedora "Pa, é uma coisa de gajo". Resignei-me.

Só tenho pena que eles não sejam todos verdadeiros Buttons, leia-se, Brad Pitts.