segunda-feira, 7 de março de 2011

Diz-me de que te mascaras dir-te-ei quem és

Li algures que as máscaras que escolhemos vestir no Carnaval são fruto de uma qualquer tara escondida no nosso subconsciente.  Já me mascarei de coelhinha da playboy, de enfermeira sexy, de alemã atrevida…e de ervilha. Ok, se calhar preciso mesmo de fazer psicoterapia. Qual será o significado escondido por baixo de uma máscara de ervilha? Que perversão ocultará? Talvez seja melhor não saber.

No Carnaval ninguém leva a mal! Mas a verdade é que nos mascaramos todos os dias. E não amigas, não estou a falar daquele fato de empregada marota que temos em casa, refiro-me a outro tipo de vestimentas. De manhã podemos acordar executivas, a meio da tarde podemos tornar-nos numas desportivas natas e à noite é sempre possível vestir a pele de uma glamourosa actriz de Hollywood. Chegou o tempo de assumir que todas as mulheres são assim, camaleões. Ou travestis frustradas.

Certo dia tive uma entrevista de trabalho para uma empresa conservadora. Vestimenta escolhida: saia preta clássica de cintura subida, camisa branca abotoada até ao último botão, sapatos de senhora e, para dar aquele ar de futura mãe de família, um colar de pérolas. Acho que impressionei os presentes com o meu ar solene e responsável. A verdade é que a última coisa que sou é solene. E responsável, tem dias. Mal saí da entrevista o meu papel de executiva caiu por terra. Lá estava eu, na rua, ainda vestida de madame mas a mascar pastilha elástica, com o cabelo já novamente solto e a colocar o meu piercing no nariz. É que as máscaras, ao contrário dos diamantes, não são eternas.

Dei por mim a pensar que se, passado algumas horas, me encontrasse com um dos meus entrevistadores, este não me reconheceria. Envergava agora uma mini-saia de ganga rasgada, umas havaianas e o cabelo estrategicamente despenteado.

Mas desenganem-se caras companheiras, os homens também usam máscaras. Sabem aquele fulano giríssimo que afinal estava enrolado numa cinta, que afinal usava meias brancas e tinha mau hálito? É esse mesmo. Eu sei que vocês o conhecem.
A vida é mesmo imprevista e as máscaras só acentuam essa inevitabilidade. Havia um homem a quem achava piada. Era giro, inteligente, perspicaz, culto e charmoso. Até ao dia em que percebi, ao vislumbrar o elástico da cintura, que usava boxers brancos de Lycra - o meu ódio de estimação. Escusado será dizer que sem a máscara aquele homem deixou de ser alvo das minhas fantasias. Talvez o guarde para o próximo Carnaval.





 

4 comentários:

  1. Sim, no fundo andamos constantemente mascaradas!! Costuma-se dizer que o caracter de uma pessoas se vê quando esta pensa que ninguém a está a ver... O mesmo para este assunto. Acho que o nosso verdadeiro estilo é aquele que usamos para "ninguém ver" (:

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  2. Adorei o texto! Não podia concordar mais. É bem verdade, eu visto-me de acordo com o meu humor e posso ser diferentes pessoas num só dia, gosto de ser camaleónica.

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  3. lisbon new-yorker, tens toda a razão, nós vamos vestindo várias "máscaras" ao longo da vida, porque queremos ou porque nos são impostas :)
    Gostei muito deste teu texto.
    Beijinhos.

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  4. Se calhar esse homem teve algum motivo para usar essas boxers.

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