quarta-feira, 7 de setembro de 2011

Adónis e o amor abdominal

Continuando no tema do abdominal, hoje vou contar-vos história de amor. NOT! É apenas o relato doloroso de uma pequena aventura passada no final da minha adolescência (sim, esta é a desculpa para ter deixado isso acontecer). Recuemos ao meu primeiro ano de faculdade...


Certa noite, numa festividade académica na qual um grupo bastante considerável de jovens enche uma discoteca para beber e suar em comunidade, vi um Adónis surgir no meio da multidão. Loiro, alto, musculado, bronzeado.

Era este o meu Ken, estava certa. Conhecemo-nos e logo no primeiro encontro levou-me a comprar revistas. Na altura pensei que fosse, sei lá, um encontro intelectual moderno. Nada de bibliotecas mal iluminadas, agora a moda era que o cavalheiro levasse a dama a uma tabacaria, num Punto.

Estava tudo bem, ele era giro, não falava muito e fazia surf, características agradáveis e causadoras de grandes invejas entre as minhas amigas.

Continuámos a “andar” até que um dia, a meio de um filme, Adónis (vou chamar-lhe assim) se levantou e foi até ao meu frigorífico. Esperava que me trouxesse uma garrafa de champagne que lá havia misteriosamente escondido, uma taça com morangos fora da época, quiçá chocolates em forma de coração. De repente, vejo à minha frente um homem de 1 metro e 90 a comer alegremente uma cenoura com casca.

Mas não, não sucumbi às evidências. “É um homem saudável, que cuida de si”, pensei ingenuamente.

Deixei esta relação “marinar” muito tempo. Ele era demasiado giro para se desperdiçar, além disso adorava passear o Adónis e ver os olhares femininos de inveja, confesso. Ele não falava muito. E quando falava dava por mim a suplicar mentalmente que se calasse. Mas acreditem, os abdominais compensavam. Aliás, todo ele, excepto a parte cerebral da coisa.

Fomos ganhando aquela confiança de velhos amigos. Era vê-lo arrotar à minha frente e a fazer xixi de porta aberta, sempre. Meditei sobre o assunto e cheguei à conclusão de que isto deveria ser uma relação madura, pautada pela intimidade e companheirismo. O tempo foi passando e Adónis não tardou a falar o seu dialecto comigo. Palavras como “granda”, “mambos”, “réblio” começaram a tornar-se o seu vocabulário comum. O que querem dizer? Tentem perguntar-lhe, eu tentei mas as explicações foram igualmente incompreensíveis.

Um dia afastámo-nos, sem sofrimento. Apesar dos seus insistentes pedidos, nunca namorámos oficialmente. Cheguei à conclusão que isso dava demasiado trabalho e que se o levasse a um jantar de amigos tinha de dizer que estava afónico, para não me envergonhar.

Contudo, este homem sabia alimentar a auto-estima de uma jovem mulher. Os elogios eram sempre muitos e vocês sabem que queremos sempre ouvir estas coisas, nem que venham de um ser com um QI de uma barata. Tudo corria bem até que, regressada de Nova Iorque, Adónis olha para mim curioso e pergunta:


- Então, foste ao Cristo Rei lá em Nova Iorque?

 

Não é preciso dizer mais, pois não? 





 Descubram as diferenças...



p.s - "Cristo Rei" no dialecto de Adónis significa "Estátua da Liberdade". Citando o autor da coisa "Sei lá, tipo aquela estátua grande que há lá em NY".

6 comentários:

  1. eheh Priceless! Raramente um abdominal bem definido compensa um cérebro de ervilha :)

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  2. Ok... Eu gora até ia perguntar o que quer dizer "mambos" ou "réblio", mas já percebi que não tem tradução.
    Agora essa lá do Cristo Rei de Nova Iorque... Credo!
    :)

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  3. Ah ah ah, que máximo....o que me ri!!!! Muito bom!

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  4. Adoro mulheres bem resolvidas, de cabeça aberta, de auto crítica afiada e bom humor a qualquer preço.
    Hilariante!
    Comigo nunca ocorreu, não me acho assim tão crescida.
    Sou pequena, exigente, contundente e não há Adónis que me convença... pior para mim.

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  5. Que história!! Se tiveres mais assim escreve um livro! Eu compro!! =D

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  6. Jesus... afinal deus não dá com as duas mãos :P estava aqui a pensar, satisfaz-me a curiosidade... porquê lisbon new-yorker? (e pode parecer estranho mas isto é realmente importante lol)

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